"Como se iniciou a colaboração entre a Galiza e Portugal na área da cooperação?
Então que colaboração se espera da Galiza no apoio ao projecto dos municípios portugueses?
Hermínia, pensam pôr em marcha uma rede municipalista de cooperação em Portugal. Explique-nos um pouco o projecto. Como tinham pensado a rede?
Quantos municípios estariam interessados?
No caso português, têm muito peso e muita importância, as geminações. Trabalha-se muito através de cidades geminadas, não?
Hermínia Ribeiro: Sim, trabalha-se bastante, principalmente nesta área da cooperação, desde inícios dos anos 90, finais dos anos 80, os municípios portugueses começaram a desenvolver geminações com os municípios de países de língua oficial portuguesa , principalmente esses, Cabo Verde, Angola, muito mais em Cabo Verde, pois acaba por ter o mesmo modelo de descentralização que nós em Portugal.
Ánxelo, Portugal pode imitar, pode copiar - no bom sentido das palavras - esta experiência galega, a experiência do Fundo Galego de Cooperación e Solidariedade?
Ánxelo Vicente: Eu penso que pode fazê-lo. O que ocorre é que vai levar um tempo e, provavelmente, não acabará nunca por ser uma cópia absolutamente mimética pois existem algumas diferenças importantes. Levará tempo pois, em Portugal, existem as geminações dedicadas à cooperação internacional e na Galiza isso não ocorre - trata-se de um mecanismo formal que nunca chegou a ser substantivado, nunca chegou a ser utilizado. Existe, por outro lado, mais uma diferença importante entre Portugal e a Galiza: provavelmente, num fundo Português de cooperação, acaba por não ter tanto peso a cooperação directa, como pode ter no caso do Fundo Galego, na medida em que existem muitas ONGD portuguesas que trabalham directamente com as entidades locais dos países do Sul, o que consideramos, no Fundo Galego, constituir o nosso sector de trabalho prioritário. No caso Português existe uma aliança mais forte entre os municípios e as ONG, e no caso galego, as ONG que trabalham com os municípios dos países do Sul em cooperação especificamente municipalista são menos, de tal maneira que temos que promover em maior medida a cooperação directa. Portanto, há algumas diferenças que determinam que provavelmente o modelo do Fundo Português não seja exactamente igual. Será uma entidade perfeitamente homologável, que esperamos que venha a integrar a Confederação de Fundos Estatal, que passaria a ser Ibérica - assunto já abordado na própria Confederação - tornando possível o estabelecimento de ligações, vínculos de trabalho conjunto, de extraordinário interesse para as duas partes.
Hermínia quando poderá ser uma realidade este projecto?
Hermínia Ribeiro: Neste momento já estamos com a rede constituída de forma informal e virtual, foi criado um espaço na internet que permite que estas entidades, estes municípios se registem, e haja uma partilha de quais são as actividades que já desenvolvem. Começámos agora a trabalhar num formato de estatuto e de orientação de como é que este fundo português ou rede portuguesa poderia funcionar e pensamos que até ao final deste ano, de 2011, estaremos em condições de passar à formalização da rede.
Ánxelo, também colaboram e também assessoram entidades alemãs, a partir da Galiza?
Ánxelo Vicente: Sim. Existe esta ONG alemã e parece que existe interesse: os municípios alemães começam a explorar a possibilidade de promoverem o trabalho em rede na área da cooperação internacional. Temos que ter em conta que os municípios têm suficientes coisas em comum, sobretudo quando falamos de municípios do mesmo país ou de um território com uma série de características determinadas como para poder promover uma cooperação conjunta que, graças a isso, pode ser melhor dotada, tanto técnica como orçamentalmente. E isto é fundamental na cooperação internacional. Não podemos fazer uma boa cooperação com os países do Sul, se antes não formos capazes de cooperar entre nós. Nesse sentido, o trabalho em rede entre entidades como os municípios é fundamental. Na Alemanha começam também a tomar consciência disto. Apesar de que na Alemanha temos diferenças importantes: existem municípios extraordinariamente grandes e com maior capacidade para fazerem cooperação por si próprios. No caso galego, a escassa dimensão dos próprios municípios leva a que o trabalho em rede seja quase uma necessidade, caso contrário a cooperação internacional que poderia fazer cada um separado seria verdadeiramente pouco relevante e portanto muito pouco eficaz e eficiente."